FILOSOFIA UBUNTU
“Ubuntu é uma maneira de estar na vida. É uma palavra que condensa a verdadeira essência do que é ser Humano. A minha humanidade está intrinsecamente ligada à tua e, por isso, eu sou humano porque pertenço, participo e partilho de um sentido de comunidade. Tu e eu somos feitos para a interdependência e para a complementaridade.”
Esta palavra, que encontra expressão em variadas línguas africanas, condensa uma filosofia de vida humanista, transversal e independente de qualquer país, cultura, religião ou afiliação política. Ubuntu significa “Eu sou porque tu és”, ou seja, eu só posso ser pessoa através das outras pessoas.
Ubuntu está intimamente ligado à relação entre as pessoas e à sua interdependência, respondendo ao “Penso, logo existo” com “Relaciono-me, logo existo”. Ser Ubuntu, ao contrário de uma visão positivista de autossuficiência, é acreditar numa humanidade comum e interdependente. O bem-estar e a felicidade individual estão intimamente ligados ao bem-estar e felicidade do outro.
“(…) a filosofia Ubuntu tem profundas raízes africanas, mas, (…), estende-se além-fronteiras. Não é sul-africana. Não é portuguesa. A essência do Ubuntu é Ser Humano.”
A filosofia Ubuntu trata da essência do ser humano que valoriza a importância do “eu” na sua busca de sentido através do encontro com o outro, numa relação de interdependência construtiva. Assim, a filosofia Ubuntu propõe que cada um aprenda a descobrir-se, a si e ao outro, comunicando-se, relacionando-se, preservando e potenciando a singularidade de cada um.
Com o objetivo de capacitar jovens e educadores para uma ética do cuidado, onde cada um se considere responsável por cuidar de si, dos outros e do planeta, a Academia de Líderes Ubuntu funda as suas raízes na filosofia de vida Ubuntu, que se faz presente em diversas dimensões como a metodologia do projeto, as ferramentas e instrumentos utilizados, na inspiração de novos construtores de pontes e novos líderes servidores.
ÉTICA DO CUIDADO
Poucos são os conceitos mais próximos do Ubuntu como o é a Ética do Cuidado.
Vivemos no mundo da imersão digital, da velocidade e do efémero. A vida é, cada vez mais, mediada por máquinas e softwares que, crescentemente mais sofisticados, substituem, por vezes irreversivelmente, o que antes era feito por e com pessoas. Este caminho onde escasseia o rosto e presença humana, tem despertado uma maior necessidade de busca de um sentido e de um propósito para a vida de cada um.
Em Saber Cuidar, Leonard Boff diz-nos que “No cuidado encontra-se o ethos fundamental do homem. Isto significa que no cuidado identificamos os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida algo bom de se viver e das ações, um desafio a aceitar”.
Na essência do “Eu Sou porque Tu És” está o cuidado, a atenção, a proteção, a relação, intrínsecos à essência do ser Humano. Cuidar de mim, cuidar do outro e cuidar do planeta leva ao sentido e ao propósito, tantas vezes enublado ou escondido por uma sociedade que se foi, em tantos aspetos, desumanizando.
Ubuntu restaura este sentido de humanidade, colocando o foco na pessoa e as suas relações, ajudando a conectar-se com o que de mais profundo e humano cada um de nós guarda em si. Não é difícil perceber que a Ética do Cuidado seja um dos fundamentos basilares para este caminho Ubuntu.
CONSTRUÇÃO DE PONTES
Num mundo cada vez mais fragmentado e tantas vezes extremado, onde o medo é tantas vezes o motor de decisões com consequências trágicas, urge criar uma cultura de pontes e capacitar um número crescente de construtores de pontes, pessoais, territoriais, geracionais, culturais, civilizacionais, que ajudem no caminho de um mundo mais coeso e solidário, mais digno e mais humano.
A construção de pontes está intimamente ligada ao que de mais profundo a filosofia Ubuntu defende. A capacidade de se reconhecer interdependente é uma das características fundamentais para qualquer construtor de pontes. A certeza da necessidade do outro, de ligar margens nem sempre próximas e de se deixar transformar com essa ligação, é condição essencial para quem se quer transformar em pontífice, ou seja, aquele que constrói pontes.
Pelo que foi dito fica claro que ser construtor de pontes é uma das características essenciais de um líder servidor. No entanto, porque esta é uma tarefa muitas vezes difícil e que envolve empenho e regras, na Academia de Líderes Ubuntu é dada especial atenção a este tema.
LIDERANÇA SERVIDORA
“Todos podem ser grandes... porque todos podem servir. Não é necessário um diploma universitário para servir. Não precisa que haja concordância entre substantivo e verbo, para servir. Só é necessário um coração cheio de graça. Uma alma gerada pelo amor."
Inspirada por Martin Luther King, a Academia de Líderes Ubuntu assenta na convicção de que todos podem ser líderes, porque todos, nas comunidades a que pertencem, podem servir.
A Liderança Servidora, focada no bem comum, procura gerar consensos e mobilizar a vontade coletiva, na procura de soluções para problemas concretos. Longe do conceito de liderança centrada num só indivíduo, na verticalidade hierárquica ou na lógica do poder centra-se, ao invés, na capacidade de uma pessoa, em registo relacional, interdependente e colaborativo, potenciar as capacidades dos outros em prol do bem comum. O autoconhecimento, a autoconfiança, a resiliência, a empatia e o serviço, são essenciais no percurso de crescimento de quem deseje ser líder servidor.
“O líder servidor, serve primeiro. Tudo começa com um sentimento natural de querer servir. Então, uma escolha consciente leva a pessoa a desejar liderar. Esta pessoa é totalmente diferente de quem lidera primeiro.”
O líder servidor é motivado por um desejo enraizado de querer fazer a diferença na vida dos outros e no mundo que o rodeia. É a partir desta premissa que trabalhamos a liderança, assumindo que é um caminho que implica um conjunto de competências que têm de ser desenvolvidas ao longo da vida. Na convicção de que as características de liderança se aprendem e se potenciam, a Academia de Líderes Ubuntu investe na capacitação de pessoas, com o objetivo de que cada um descubra quem é, que capacidades tem, quem quer servir e como quer servir.